sábado, 30 de janeiro de 2010

Existir ou viver

Ali estava ele, recostado naquela parede suja daquele sujo boteco, bebendo um copo de whisky e olhando para ela. Para ela e para aquele homem que a abraçava. Que abraçava e, também, beijava-a. E, enquanto olhava, ele se perguntava o por quê. Por que a olhava daquele jeito, cheio de vontades? Por que a queria assim, acima de todas as outras pessoas, mesmo sabendo que ela está com outro? Ele se perguntava isso, mas já sabia da resposta. Ele a queria, porque sabia que ela não fora feita para aquele homem que a beijava. Ele sabia e sabe que ela foi feita pra ele. O detalhe é que ela ainda não sabia disso. Ainda.

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Dias antes, ali estava ele, ao telefone, conversando com ela. Assuntos idiotamente cotidianos, mas ao mesmo tempo, interessantes. Futilidades que iam do “como foi seu dia?” até “você viu aquele vídeo idiota daquele idiota que pula de uma pedra e cai de barriga na água?”. Ele duvidava que ela se divertisse e conversasse daquele jeito com outras pessoas. Dentre essas conversas, ele sentia medo. Medo pois sequer imaginava que alguma outra pessoa no mundo tivesse uma coleção de escovas de dente em casa, apenas porque esquecia de levar a sua para uma viagem, obrigando a compra de uma outra que, depois, acabaria guardada em uma gaveta qualquer. Ele sentia medo e tentava imaginar o que mais tinham em comum. E tinham muitas outras coisas, coisas essas que acabariam por tirar o medo dele e transformariam esse medo em, paixão. Paixão e decepção.

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Naquela suja parede daquele sujo bar, ele observava os dois. Ela estava bebendo cerveja, o homem, água tônica. Ela está fumando um cigarro e ele, mascando um chiclete de menta. Ela jogava sinuca de um jeito que ele jamais jogaria, enquanto o homem jogava sinuca de um jeito que ela apenas sorria. E ele ali, recostado na parede. Observando. Imaginando.
Então ele se lembrou do beijo dela. Daqueles beijos, que duraram uma madrugada apenas. Daqueles lábios, que agora tocavam outros lábios. Daquele perfume, que agora impregnava outra camisa, que não a dele. Lembranças que não deviam machucar, mas que machucavam. Machucavam não por pertencerem agora a outra pessoa. Mas por pertencerem a outra pessoa que não as merecia. Apenas porque essa outra pessoa não fora feita para ela. Então ele pediu outra dose de whisky.

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- Por que você tá com ele?
- Porque eu gosto dele.
- E você está feliz?
- Não sei.
- Você deveria responder que sim. Se não sabe, é porque sinceramente, você não está.
- É, sei lá.
- Você não sabe, mas eu sei que não está.
- Mas agora estou com ele.

Esse golpe ele sentiu com força. Não por gostar, e muito, dela. Mas porque, acima de tudo, ele quer vê-la feliz. E ela não está, assim, feliz. Ela está apenas vivendo no comodismo. E isso não é viver, é existir.

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Ali, bebendo aquele whisky, ele continua observando os dois. E fica apenas a imaginar como seria se tudo fosse diferente. Se ele soubesse jogar sinuca como ela joga. Se ele estivesse abraçando-a, ao invés de vê-la ser abraçada. Como seria, se os dois estivessem bebendo um vinho qualquer em uma praça qualquer. Como seria estar deitado com ela na cama, matando ambas as vontades. Como seria beber um café ao lado dela, dentre as fumaças de ambos os cigarros. Ou como seria viajar para a praia num sábado ao anoitecer, sentar na areia, conversar e se divertir para, depois, simplesmente vir embora. Ele imagina, enquanto ela existe. Mas não vive. E ele fica ali, torcendo para ela desistir dessa ideia tola de apenas existir, para vir viver com ele uma louca história completamente sem planos, sem ideias e sem mentiras. Para viver momentos cheios de loucura, de risadas e de conversas em comum. E enquanto ela existe e finge viver, ele está por aí, apenas sonhando dentre um copo e outro de whisky.

8 comentários:

  1. Meu Deus, tá parecendo filme isso! Diria um Vanilla Sky... mas um pouco mais empolgante... digamos assim...

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  2. Não serve como crítica, mas, contudo, entretanto e todavia, conheço essa pessoa e sei que ela escreve melhor que isso. O texto ficou sem sal, poderia ser mais intenso, expressivo, se é que me entende. Parabéns por escrever textos inteligentes, porém, pode melhorar ainda mais, e muito...

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  3. Naum gostei, mass sucesso com o blog!

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  4. Muito boa a primeira...
    ps. o cara adora tomar um whisky, haha

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  5. Ála whisky véio
    bons tempos!

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