Ele e Ela estão ali sentados na mesa de jantar dele, um de
frente para o outro, bebericando a segunda garrafa de vinho. Levemente
embriagados, os dois sorriem enquanto conversam relaxados. Ele tem 32 anos, Ela
tem 27. Ele não quer entrar no assunto que Ela quer. Ela quer apenas que Ele
tome a iniciativa e comece o papo. Enquanto isso...
O Outro e Ela estão ali sentados na mesa da lanchonete, um
ao lado do outro, bebendo chopp. Totalmente à vontade, os dois sorriem enquanto
conversam e fazem piadas um com o outro. O Outro tem apenas 20 anos e Ela tem 27. Ela
não quer entrar no assunto que o Outro quer. O Outro quer que ela tome a
iniciativa, porque essa espera faz parte da diversão. Enquanto isso...
Ele decidiu. “Olha, pra mim é o seguinte. Eu gosto muito de
você e acho que a gente se deu muito bem juntos. Sabe, nos divertimos na cama e
gosto de conversar com você.” Porém, Ela pensou consigo mesma que a diversão na
cama nem foi lá aquelas coisas e a conversa nem é assim tão interessante,
afinal, ele detesta filmes fantásticos e odeia Piratas do Caribe (ele gosta
muito de Jackass). Sem saber direito o que responder, Ela apenas deu outro gole
no vinho. E enquanto isso...
O Outro está bebendo um generoso gole de chopp. Ela sorri. E
o Outro também. Então ele apenas diz “Sabe, adoro a sua foto de perfil no Facebook.
Porque nessa foto você é você sem ser falsa. É espontânea e sexy.” Ela sorri
pela sinceridade. E o Outro, apontando para a caneca de chopp “Vai, vira,
porque vou pedir outros dois.”. Os dois viram o chopp.
Ele está olhando para Ela enquanto espera uma resposta. Ela
termina de beber o vinho e olha para Ele, em silêncio. Ele, com a coragem que o
álcool dá, emenda “E o que me diz de nós dois? Eu acho que somos um belo casal.”
E Ela, também com a coragem que o álcool traz “Também acho. Eu sou bonita e
você também é.” Ele sorri apenas por não saber outra forma de reagir. Ela
sorri, por saber que ganhou o jogo.
Dois novos chopps na mesa. Ela e o Outro brindam. Ela ri.
Ele complementa “É disso que eu to falando. Essa sua risada é espontânea. É
você. E eu adoro isso.” Ela ruboriza e bebe um gole. Esse Outro sorri, bebe um
gole e “Nunca mude!”
Ele enche o copo com mais vinho. Ela apenas observa. Ele
pega a taça e aponta para que ela faça o mesmo. Ela faz. Eles brindam e Ele diz
“A nós dois. Porque você é muito mais bonita do que a minha ex.” Ela apenas
bebe, sabendo que Ele está se afundando nas próprias memórias.
“Eu acho que não vou mudar.” Ela diz, enquanto bebe outro
gole de chopp. E o Outro sorri para ela, porque sabe que não é mais o Outro,
quando diz “Mesmo que você mude, você sempre será você.”
Ela pergunta para Ele “Por que está falando da sua ex agora?”
E Ele, entendendo a delicada situação, tenta consertar “Porque eu só queria te
mostrar o quanto você é melhor do que ela.”. E Ela, num xeque-mate, finaliza “Se
você achasse isso, sua ex nem teria entrado nesse assunto. Afinal, eu falei do
meu ex? Não.”. Ele, por fim, enche novamente as taças de vinho. Resignado.
Ela termina o copo de chopp e dá um pequeno arrotinho,
interno, sutil. O Outro quase se afoga enquanto bebe e ri da situação. Ele
então diz “Eu sei que você tem mais idade do que eu, e eu sei que idade é apenas
número, caso contrário, você não estaria aqui comigo.” E Ela, totalmente
entregue nesse xeque-mate, apenas responde “É verdade...”.
Ela chama o táxi para ir embora.
Ele, bebendo o resto do vinho da taça, apenas a observa. O interfone toca, Ele
atende “Ok, ela já está descendo.” Ele abre a porta e ela se aproxima para o
tchau. Um beijo carinhoso na bochecha. Ele está frustrado, ela também. E Ela
vai embora.
Dentro do táxi, Ela pega o celular e telefona. Instantes
depois, alguém atende e Ela pergunta “Oi, quer tomar um chopp em uma
lanchonete?”