terça-feira, 12 de março de 2013

Essas idas e vindas



Eu sempre imagino as histórias que determinados lugares nos contariam, caso pudessem e quisessem nos falar. Assentos de táxis. Assentos de ônibus. Salas de espera de hospitais. Salas de espera de maternidades. Cemitérios. Celulares! Porém, o local com as mais íntimas histórias escondidas é o aeroporto.
Porque naquele saguão daquele aeroporto está um senhor sentado e bebendo, em uma mesa, um copo de chopp. Ele está bebendo com a vontade que um senhor de 55 anos beberia. Ele bebe por um motivo muito específico: nervosismo. Muitos anos atrás, naquele mesmo local lá se foi sua pequena filha, depois de uma briga feia.
E agora ela está voltando, trazendo nos braços um pequeno filho.

Na mesa ao lado um jovem garoto conversa com uma jovem garota. Um de frente para o outro, mas com as mãos dadas e esticadas sobre a mesa. Do lado dele, a promessa “Você está indo embora, mas me espere, porque irei atrás de você!” e do outro lado, ela responde com lágrimas nos olhos o que seu coração queria dizer “Venha, porque estarei te esperando.”.

Em outra mesa, uma mulher que não tem mais do que 40 anos olha para o nada, assertiva. Até que seu celular toca. Ela atende, sorri e se levanta sem nunca nos dizer o que estava acontecendo.

Na ala de desembarque, um rapaz está esperando pacientemente. Um funcionário do aeroporto se aproxima dele e diz “Oi, teu nome é...” “Sim, sou eu.” “Isso é pra você.”. O rapaz sorri, agradece e pega uma mala. Sem sequer sair do lugar, ele a abre. É a vodka francesa que ele esperou por tanto tempo. Natasha. Ele fecha a mala e vai embora, sonhando com um novo e melhor amanhã.

Em outra ala de desembarque, outro rapaz está esperando com uma placa levantada que diz o nome de uma garota, circundada por um coração. E ele continuou ali esperando, até entender que a garota nunca viria.

Na sala de espera para entrar no avião, um homem fala com outro homem. Caso corriqueiro, claro, exceto pelo fato dos dois homens serem exatamente iguais. Irmãos gêmeos, um está indo para um país do hemisfério norte e o outro, para um país oriental. E pela primeira vez em suas vidas, eles não estarão juntos. Ao seu momento, um prometeu ao outro cuidar-se, manter a calma e criar uma nova vida.

Continuando as histórias que um aeroporto contaria se pudesse e quisesse contar, ali estão um homem e uma mulher. Cada um nos seus 30 anos bem vividos. Ela vai embarcar e ele vai ficar. Ela vai para a Itália e ele ficará por aqui. Ela irá em busca de novos sonhos e ele ficará, por aqui, sonhando por ela. Ela foi. Ele ficou, olhando para a Lua.

E no portão de entrada um jovem rapaz beija, efusivamente e dentre lágrimas, uma jovem garota. Eles se amam mas ela está indo embora para outro país. E como fizeram antes, na mesa, ele prometeu ir atrás dela. Ela prometeu que iria esperar por ele. E como terminou essa história, só os dois sabem.

E são essas poucas dentre muitas histórias que um aeroporto poderia contar. Se pudesse. E se quisesse.

Nenhum comentário:

Postar um comentário