quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Pantufinhas

Ela se sentou na cama e enfiou o pé na pantufa. Pantufinha formato pata de dinossauro, daquelas que fazem você lembrar que a infância só acaba para quem não a quer mais. O ar gelado daquela manhã arrepiou sua pele e o bocejo avisou que o sono ainda não tinha ido embora.

Quando saiu de casa, o vento soprava forte carregando as folhas secas do outono pelo chão. Vestia um sobretudo charmoso e usava um grande cachecol. Caminhava sem rumo. Mãos dentro do bolso e pensamentos fora da realidade. Queria saber para onde ir, e como não sabia de mais nada, ia. Ela mesma era uma folha seca.

Entrou em uma padaria e sentiu o cheirinho dos pães recém saídos do forno. Não sentia fome. Pediu um café. Estranhamente, não o adoçou. Contemplava o vapor que saía da xícara e lembrou da época em que tomava leite quentinho, que sua mãe levava em sua cama.

Notou que a observavam. Não uma, nem duas pessoas. Várias. Não se importou. Continuou bebendo calmamente o café, enquanto decidia se pedia ou não um pão de queijo. Não pediu.

Foi caminhando, esperando por algo acontecer. Mesmo sem rumo algum na vida, sorria. Sentia-se acalentada não sabendo bem pelo quê. Queria ter menos problemas e mais soluções. Queria voltar à primavera, voltar à infância, voltar a sentir o seu coração batendo.

Se ela tivesse olhado para baixo, veria que já tinha voltado. As suas pantufinhas ainda estavam ali, nos seus pés, tentando levá-la para aquele passado que ela nunca tinha deixado de visitar.

2 comentários:

  1. Por alguns momentos juro que pensei que você seria papai.
    De qualquer maneira, ótimo texto, parabéns, realmente não sabia que você possui um blog Rafa, estou ansioso para ler mais contos de sua autoria, pois já sei da sua capacidade.
    Até mais!
    Ale.

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