domingo, 4 de dezembro de 2011

Ambígua noite

Cada noite deveria ter a sua própria testemunha biográfica. Cada noite deveria ter alguém que a visse de longe e anotasse cada detalhe de cada acontecimento. Mas nem todas a têm. Essa tinha. E eis o que dela foi escrito.

A noite de hoje pode e deve ser resumida em duas pessoas. Ele e ela. Ele morava em um canto da cidade e ela, no outro. Ele seguiu sua rotina e se arrumou para sair de casa, rumo a alguma balada qualquer. Ela vestiu seus pijamas, rumo a algum sonho qualquer. Ele saiu de casa para encontrar seus amigos, já com a certeza que voltaria para casa totalmente embriagado e feliz. Ela foi para a cama, já com a certeza de que encontraria seu sono, iria dormir tranquilamente e acordaria no dia seguinte, como sempre, infeliz.

Ele e seus amigos entraram em uma balada já bêbados e felizes, dançaram como loucos, beberam como sóbrios e se divertiram como sempre. Ela fechou os olhos e esperou o sono, os sonhos e, como sempre, o infeliz amanhecer.

Ele saiu da balada acompanhado dela, com quem iria para casa, “Espero”, pensou ele, não para dormir. Enquanto ela sonhava que estava indo para casa com ele, para onde iriam “Espero”, pensou ela, dormir. Ele chegou em casa com ela, e com ela fez tudo, menos dormir. No sonho dela, ela chegou na casa dele, onde tudo o que fizeram foi, dormir.

No final da feliz noite, ou no começo do infeliz amanhecer, ele e ela dormiram. Ele vazio e infeliz. E ela, completa e feliz.

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