sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O finito infinito

Da vida nada levamos. Exceto, talvez, a experiência. Mas isso depende da crença (ou da falta dela) de cada um. Pensar que somos feitos apenas, ou da poeira das estrelas que já partiram, ou dos restos do que um dia foi a explosão inicial que deu origem a tudo, me conforta. E, ao mesmo tempo, me inquieta.

“A ignorância é uma bênção.” já disse algum sábio filósofo cujo nome desconheço. Porém, apesar dessa minha ignorância em saber o autor de tal pensamento, concordo plenamente com ele. A partir do momento em que comecei a pesquisar, ler e aprender sobre a origem da vida, do universo e tudo mais (42?), eu nunca mais fui o mesmo. Embarquei, inadvertidamente, em um oceano cheio de descobertas para mais perguntas. E cada resposta que eu obtive, trouxe perguntas ainda mais misteriosas. E a pergunta majoritária que eu tive, depois de tanto ler, aprender e refletir é a seguinte: Como pode alguém, por mais importante que seja em nossa sociedade, achar que é o centro do mundo?

Eu já, há muito tempo, coloquei-me na mais modesta, humilde e, por que não?, sincera posição em relação à vida. Eu não sou nada. Quiçá um dia eu mude o mundo, invente algo sensacional, traga esperança, mude a vida de milhares de pessoas. Terei eu feito a minha parte? Não, para mim, não. Talvez para alguém que ainda pense ser especial, sim, eu tenha feito a diferença. Porém, penso eu, qualquer vida que eu tenha porventura mudado, será apenas isso, uma ínfima vida. Uma vida, uma poeira cósmica, um grão de existência dentro da existência eterna do universo, apenas uma singela vida entre bilhões delas, em um planeta, entre bilhões deles, em um sistema estelar, entre trilhões deles, dentro de uma galáxia, dentre centenas de bilhões delas. Quando penso “Quão importante eu sou dentro do universo?”, posso ser otimista e egocêntrico e responder “Sou tão importante quanto qualquer outro ser humano.”, mas também sinto que devo ser realista e responder “Eu? Importante no universo?”.

Por isso volto ao pensamento filosófico “A ignorância é uma bênção.”, porque eu, por muitas vezes, adoraria nunca ter embarcado nessa aventura cheia de aprendizados sobre o tudo (que leva, por enquanto, ao nada). Eu sinto que, talvez, seria muito mais feliz se apenas vivesse pacatamente a minha vida, sem saber o que raios significa anos-luz, Big-Bang, realidade relativa do espaço-tempo, o que existia antes do universo, o que criou o universo, o que criou aquilo que criou o universo, o que vem depois, como surgiu a vida e porque diabos a nossa tão avançada ciência ainda não conseguiu criar a vida (que, convenhamos, parece tão banal) de forma artificial.

Às vezes invejo aquele senhor que vive em um vilarejo interiorano afastado de qualquer civilização e que, justamente pela sua abençoada ignorância, apenas vive. Acorda, faz seus afazeres diários, come, cuida do que é seu, e volta a dormir. Sem pensar no universo. Sem se preocupar com a vida. É apenas egocêntrico, sem saber que o é. Vive para si mesmo e, apesar das dificuldades da vida, vive em paz.

Quando criança, eu era assim. Meus únicos pensamento e preocupação eram brincar. Inventar mundos e, que ironia, universos onde eu me divertia com meus brinquedos.
Mas, apesar de eu sempre me divertir ao ler e saber mais sobre o universo e querer saber, infinitamente, cada vez mais, eu só sei que nada sei. E como uma amiga minha confessou para mim certa vez, e eu concordei plenamente com ela, só lamento a finitude da vida porque essa finitude jamais me permitirá conhecer a infinitude do universo.

Ao menos, espero eu, que ao final da nossa vida, possamos finalmente obter o infinito conhecimento de tudo aquilo que faz a nossa vida ter sempre um fim. Se é que ela tem um fim.

Um comentário: