terça-feira, 1 de setembro de 2009

O cacau e o ramalhete

Ali estava ele ajoelhado na grama. À sua frente, um pequeno buraco no chão estava sendo preenchido de terra. Suas mãos, estavam escuras. Suas unhas, sujas e suas lágrimas transformavam tudo aquilo em lama. Ele se levantou e enxugou os olhos com a manga da camisa. Olhou para o chão e sorriu. Sorriu tristemente. Sorriu chorando.

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Ali estava ele ajoelhado ao lado de uma cama. À sua frente, sua até então namorada dormia ao lado de outro homem. Era amigo dela, o melhor amigo dela. Preferiu não acordá-la. Preferiu o silêncio. Virou as costas e saiu. Pegou um ônibus e foi para casa. Sentado com a cabeça encostada em uma janela, pensava no erro que havia cometido. Não ele, mas ela. Chegou em casa e chorou. Relembrou do dia em que ela aceitou namorá-lo, e lembrou que nesse dia também chorou. E vejam só que ironia, agora o significado era paradoxalmente o oposto. Então, pegou o telefone. Ela não atendeu. Devia estar dormindo ainda, torcia ele. Desde quando isso estava acontecendo? Que fosse a primeira vez, esperava ele, assim seria também a última. Mas estava curioso sim pelas desculpas, e não pelos pedidos de desculpas. Telefonou novamente. E, novamente, ela não atendeu.


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Em uma floricultura, ele escolhia o melhor dos significados. Dentre as várias espécies e cores, ele queria aquela que teria o significado definitivo. Que tal essa? Linda, assim como ela. Mas aquela era marcante, assim como ela. Enfim, escolheu por uma dentre várias, assim como escolheu a ela, dentre várias. Quanto custa?


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Deitado em sua cama, ele parara de chorar. Mas continuava sorrindo. Estava, finalmente, namorando ela que por tanto tempo foi seu sonho. Olhou para o lado e, ali, estava um belo ramalhete de flores vermelhas. Clichê? Talvez. Deveria juntar ao ramalhete, algum clichê chocolate? Talvez. Desistiu da ideia por não saber qual chocolate ela mais gostava. E quando se encontraram, ela adorou o presente. Agradeceu em forma de um lindo sorriso e um delicioso beijo. Então, saíram para jantar.


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Deitado em sua cama, ele estava chorando. Olhou para o lado e, ali, estava a aliança que usara pelos últimos 7 meses. Seu telefone tocou. Era ela. Ele enxugou os olhos com a manga da camisa e atendeu. Ela disse que havia terminado de fazer o trabalho da faculdade e queria vê-lo. Ele disse não. Ela não entendeu. Ele explicou. Ela se arrependeu, ele disse que tudo terminou e, então, desligou.


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Ele saiu de casa e foi até o jardim. Ali ele se ajoelhou e fez um pequeno buraco no chão. Suas lágrimas transformaram a seca terra em lama. No buraco, ele depositou uma aliança e, no meio dela, uma semente. Quanto custou? O suficiente. Começou a preencher o buraco com terra e, desde então, ele está esperando a semente germinar. Pois ele sabe que daquela semente de cacau irá brotar o chocolate que ele quiser. E esse chocolate vai lhe trazer a mesma felicidade que ele já teve e lhe foi roubada. Esse chocolate ele dará, junto a um clichê ramalhete de vermelhas flores, para a próxima flor que ele escolher dentre as várias que existem pelo mundo afora.

Rafael Monteiro - 02/06/09

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