sexta-feira, 8 de março de 2013

Heleninha, virgem Heleninha




E aí veio a notícia. Heleninha, logo a casta Heleninha, estava grávida.

- Só pode ser do Espírito Santo, tipo Maria! - bradou a garota para as três amigas, durante o jantar semanal. - Nem namorado tenho. - completou. Vânia olhou para ela com desdém e comentou com Isabela, quase aos cochichos. - Se mulher só engravidasse com namorado, o mundo teria 8 pessoas.

As duas riram entre si. Heleninha, a imaculada Heleninha, ignorou as risadas, o motivo delas e desatou-se a chorar.

- E agora? Como vou contar aos meus pais? E meu Deus, quem é o pai?

Silêncio. As três amigas aguardavam as próximas palavras de Heleninha, que não vieram. Virgínia resolveu que era hora de intervir.

- Heleninha, com quem você andou dormindo?

- Dormindo? - protestou Vânia. - Dormindo!? - protestou novamente. - Com quem ela andou transando! Essa deveria ser a pergunta!

O silêncio agora era pontuado pelos soluços da virgem Heleninha.

- Com ninguém... Sou pura.

As três amigas começaram a rir. Pararam assim que perceberam que Heleninha, aparentemente, falava sério.

- Amiga, virgem não engravida. - atestou Vânia, demonstrando a você, leitor, ser a mais sexualmente ativa do grupo.

- Mas e Maria? - perguntou Isabela, também demonstrando a você, leitor, ser a mais religiosa do grupo.

- Maria está no céu. - interveio Virgínia, demonstrando não fazer ideia do que a palavra “contexto” significa.

Heleninha apenas soluçava dentre lágrimas. Vânia, em sua esperteza, pegou o celular de Heleninha, viu o nome do pai da futura criança e colocou o aparelho no ouvido.

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Paulo Coelho “igual o escritor”, como costumava repetir, queria apenas que o expediente da semana terminasse. Sexta-feira! O problema é que ainda era terça-feira. Conscientemente ignorando essa informação, ele apenas sonhava com um número: 18:00. A alforria. A hora de ir embora. A liberdade provisória que teria até o momento em que chegasse em casa e encontrasse a esposa, “uma vaca ciumenta, manipuladora e possessiva” como também costumava repetir. Aliás, vale citar que Paulo Coelho sempre repetia verdades universais como se fossem suas “igual o escritor”, como costumava... repetir.

Em todo caso, Paulo estava no trabalho quando seu telefone celular tocou. Era um número desconhecido.

- Alô?

- Paulo?

- É ele. Quem está falando?

- Paulo, é o seguinte. Você não me conhece, meu nome é Vânia e eu tenho algo muito importante pra te dizer. Você está em pé? Sente.

- Mas eu estou sentado.

- Então deite.

- …

- É o seguinte. Você vai ser pai.

É importante seguir o raciocínio que Paulo teve nesse momento. Seu cérebro estava hiperativo pelo excessivo consumo de café feito durante todo o interminável expediente. Segue o que se passou em sua mente naquele instante “Po, eu falei pra Julia se cuidar, tomar o remédio sempre. Não posso arcar com um bebê agora. Vou falar pra ela abortar. Isso! Não! Abortar é feio, Deus não gosta. Que merda, vou ter que me matar de HE (Hora Extra) pra poder pagar tudo que um bebê precisa. Sem falar que os pais dela, que já me odeiam, vão achar que fiz de propósito e então...”

- Paulo? - a voz de Vânia no telefone interrompeu tudo.

- Sim, diga.

- A Heleninha está grávida.

- Heleninha?

- Sim, a Heleninha.

- Mas eu não conheço nenhuma Heleninha. Sou casado.

- Você diz que é casado? E a Heleninha diz que é virgem, portanto...

- Mas é sério. Eu não conheço nenhuma Heleninha...

Nesse instante, Vânia olhou para o celular e notou a merda que fez.

- Paulo, desculpa, liguei para a pessoa errada.

- Já que está tudo errado, hoje pode ser sexta-feira?

- Pode!

Vânia desligou. Paulo mandou tudo à merda, se levantou e foi embora louco pra abraçar e fazer amor (coisa que só casados fazem e, quando fazem, é só no aniversário de casamento). Quando ele chegou em casa agarrando taradamente Julia, ela estranhou. Eles treparam. Ela, sendo uma vaca ciumenta e possessiva perguntou “quem mais ele estava comendo, já que ele nunca fizera aquilo e, já que não fizera, obviamente tinha aprendido com alguma outrazinha qualquer” pediu o divórcio. Totalmente arrasado, no dia seguinte ele foi demitido, por ter mandado tudo (leia-se, o chefe) à merda.

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Vânia estava segurando o telefone celular na mão. Com um leve remorso, olhou para a chorosa Heleninha.

- Amiga.

- Quê? - e prosseguiu a chorar.

- Quem é Paulo Coelho?

- Um escritor. - Heleninha, Isabela e Virgínia responderam juntas.

- Ok. Quem é o Paulo Coelho que está na sua agenda do celular?

- Ah, é meu chefe.

- Ok. - limitou-se a dizer Vânia, torcendo para que Paulo tivesse uma posição corporativa tão alta que jamais soubesse da existência de Heleninha. Claro, Vânia jamais saberia que Paulo seria demitido no dia seguinte.

- Amiga, sério. Quem pode ser o pai do seu filho? - perguntou Isabela.

- Ou filha, né! A gente nem sabe ainda. - questionou a feminista Virgínia.

- O que seja. - finalizou a polêmica, Vânia, completando. - Heleninha, para quem você... Deu... Nas últimas semanas?

- Pra ninguém. Sou pura. Sou virgem. - repetiu Heleninha, sob olhares reprovadores das três amigas que pensavam, coincidentemente, a mesma coisa, entre si “É claro que é.”.

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O nome do possível pai continuou em pauta dentre todas as três amigas por muito tempo. Mas é lógico que nenhuma delas falou um A para Heleninha. Afinal... Ela era casta e imaculada.
O tempo passou.

Até que veio a notícia. Heleninha, logo a casta Heleninha, não estava grávida. Já era outro jantar semanal.

- Espera, mas como não? - questionou Vânia.

- Foi erro do laboratório. - replicou Heleninha.

Todas comemoraram a não vinda de um outro rebento para o mundo. Todas, exceto Vânia, que pegou o próprio celular e mandou uma mensagem que dizia “Paulo, você está deitado? Se levante. Você não será pai!”

Mal sabia Vânia que Paulo já tinha se divorciado, estava solto no mundo, feliz e (naquele momento, bêbado) que, no momento em que recebeu a mensagem ligou para ela. O que ele disse?

- Ainda bem que não serei pai. Mas o que você acha de nós brincarmos de fábrica de bebês, agora?

Vânia disse um singelo “Sim.” para ele, se despediu das amigas e foi não só demonstrar a você, leitor, ser a mais sexualmente ativa do grupo, como foi provar.

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